“É um sacerdote segundo o Meu Coração. “Pelos seus esforços, uma nova luz brilhará na Igreja de Deus
O BEATO PADRE MIGUEL SOPOĆKO
Os primeiros anos do ministério sacerdotal em Vilna
Em 1918, o Pe. Miguel obteve das autoridades eclesiásticas de Vilnius uma autorização para viajar para Varsóvia, onde se matriculou na Faculdade de Teologia da universidade local. Porém, a doença e a situação política da Polónia impediram-no de iniciar o curso. Quando, após a reconvalescença, o Pe. Sopoćko voltou a Varsóvia para iniciar o curso, a universidade tinha sido fechada por causa da guerra. Então, apresentou-se como voluntário para trabalhar na pastoral militar. O bispo das forças armadas polacas nomeou-o capelão militar e encaminhou-o para o trabalho pastoral no Hospital Militar de Varsóvia, que estava então a ser organizado. Passado um mês, pediu para ser enviado para a frente de batalha, para o Regimento de Vilnius. Imediatamente iniciou o trabalho pastoral entre os soldados que lutavam na frente. Para além de celebrar os sacramentos, ajudava ainda os feridos que não tinham acesso a cuidados hospitalares e se encontravam numa situação muito difícil.
O Pe. Sopoćko como capelão militar da Escola de Oficiais, em Varsóvia
A desempenhar a função de capelão militar e a estudar teologia moral, o Pe. Sopoćko começou ainda um curso adicional no Instituto Superior de Pedagogia. Em 1923 obteve o grau de mestre em teologia e dedicou-se mais à área da pedagogia. O resultado das suas pesquisas relacionadas com a influência do álcool sobre o desenvolvimento intelectual dos jovens serviu de base para escrever a sua tese intitulada “O alcoolismo e a juventude escolar”, que coroou os seus estudos no Instituto de Pedagogia.
A decisão formal ocorreu no outono de 1924. Por força dela, o Padre Sopoćko foi nomeado Diretor da Região Militar Pastoral de Vilnius, que incluia 12 unidades autónomas, contando no total mais de 10 mil soldados. A transferência do Pe. Sopoćko para Vilnius era uma promoção, mas ao mesmo tempo impunha-lhe maiores tarefas e responsabilidade. O trabalho pastoral do Pe. Sopoćko como capelão militar foi reconhecido pelo marechal Józef Pilsudski. Apesar das numerosas tarefas pastorais, o Pe. Sopoćko continuou os seus estudos de teologia à distância, preparando a sua tese de doutoramento em teologia moral intitulada “A família e a legislação nas terras polacas”. Defendeu a tese de doutoramento no dia 1 de março de 1926. Após a ob-tenção do doutoramento, o Pe. Sopoćko pretendia escrever uma outra dissertação, desta vez como requisito para a função de professor. Em 1927 e 1928, exercendo sempre as funções de diretor da pastoral da Região Militar, foram atribuídas ao Pe. Sopoćko outras funções de grande responsabilidade: a de diretor espiritual do seminário e a de chefe da cátedra de teologia pastoral da Universidade de Vilnius. Estas novas obrigações obrigaram-no a afastar-se gradualmente da pastoral militar. Como diretor espiritual do seminário, era ao mesmo tempo moderador da Confraria Mariana, do Círculo Eucarístico, da Ordem Terceira de S. Francisco e do Círculo dos Seminaristas da União Missionária do Clero. Um outro trabalho exercido nesse período e que se estendeu por todo o tempo da permanência do Pe. Sopoćko em Vilnius era o de confessor de irmãs religiosas. Após obter a dispensa parcial da pastoral militar, além da função de diretor espiritual no seminário, a sua ocupação eram as aulas e o trabalho científico. Visto que na época havia falta de manuais adequados, ele mesmo preparava sebentas com as matérias por ele lecionadas. Estas eram duplicadas pelos estudantes e durante muitos anos serviram de material de apoio ao estudo.
Entre os estudantes da Universidade Stefan Batory, em Vilnius, 1929
Além do trabalho relacionado com a redação da tese, também escrevia artigos científicos na área da teologia pastoral, artigos para a enciclopédia eclesiástica, fazia conferências científicas e dedicava-se à atividade jornalística. Envolvendo-se cada vez mais no trabalho científico, pediu para ser dispensado das funções de capelão e de diretor espiritual. Com alguma resistência inicial, o bispo das forças armadas e o arcebispo concordaram em dispensá-lo dessas tarefas. Em setembro de 1932, o Padre Sopoćko mudou-se para o convento das Irmãs da Visitação, onde concluiu a sua tese, cujo título era “O objetivo, o sujeito e o objeto da educação religiosa segundo M. Leczycki”. Com base nesse trabalho, no dia 15 de maio de 1934 obteve o título de professor titular. Desde 1932 que o Pe. Sopoćko era confessor das Irmãs da Congregação de Nossa Senhora Mãe de Misericórdia, que tinham então em Vilnius a sua casa religiosa. Ali, em 1933, encontra a Irmã Faustina Kowalska que se torna sua penitente. Este encontro seria muito significativo para o resto da sua vida e para a sua futura missão. Assim surgiu o “Diário” espiritual de Santa Faustina. Aludindo às revelações que tinha tido do Salvador ainda antes de ir para Vilnius e depois em Vilnius, a Irmã Faustina contava ao Pe. Sopoćko as ordens recebidas durante estas. Era exigido que se pintasse uma imagem do Misericordiosíssimo Salvador e se instituísse a festa da Misericórdia Divina no primeiro domingo depois da Páscoa, bem como se fundasse uma nova ordem religiosa. Com o passar do tempo veio a verificar-se que a Providência Divina confiara a realização destas tarefas ao Pe. Sopoćko. Em julho de 1934, o Pe. Sopoćko tornou-se reitor da igreja de S. Miguel, em Vilnius, acontecimento que em anos posteriores ganhou um profundo significado. Foi nessa igreja, no dia 4 de abril de 1934, que, atendendo ao pedido expresso de Jesus , foi benzida e exposta a primeira imagem de Jesus Misericordioso. A Irmã Faustina deixou Vilnius em março de 1936. Permanecendo em contacto epistolar com ela e também visitando-a em Cracóvia, o Padre Sopoćko ia realizando a Obra confiada também a ele de apresentar ao mundo o mistério da Misericórdia Divina. Com base na doutrina da Igreja, continuou a pesquisa de fundamentos teológicas para a existência do atributo da misericórdia em Deus, bem como bases para a instituição da Festa Misericórdia, ordenada nas revelações. Os resultados das suas pesquisas e argumentações a favor da instituição da festa foram apresentados em revistas teológicas e em trabalhos especiais sobre a ideia da Misericórdia Divina. Em junho de 1936, publicou em Vilnius a brochura “A Misericórdia Divina”, com a Imagem de Cristo Misericordioso na capa. Enviou essa sua primeira publicação principalmente aos bispos reunidos na conferência episcopal em Czestochowa, mas de nenhum deles obteve resposta. Em 1937, publicou em Poznan uma outra brochura, intitulada “A Misericórdia Divina na liturgia”. Com a ideia da Misericórdia Divina estava relacionada também a construção de uma nova igreja em Vilnius com esta invocação. Em 1938 foi formado o Comité de Construção da igreja da Misericórdia Divina, que rapidamente obteve a confirmação da Administração da região e do arcebispo R. Jalbrzykowski. Com o início da guerra e a ocupação de Vilnius pelo exército soviético, surgiu uma nova situação política que veio interromper e impossibilitar as atividades iniciadas. O exército soviético roubou os materiais de construção recolhidos. Perdeu-se também o dinheiro destinado à construção depositado em bancos. Ainda em 1940, o Pe. Sopoćko esforçou-se por conseguir das autoridades ocupantes pelo menos autorização para construir uma capela, não tendo porém conseguido essa mesma autorização. Nesse tempo, o Pe. Sopoćko iniciou também a redação de um tratado sobre a ideia da Misericórdia Divina e sobre a festa em sua honra: “De Misericordia Dei deque eiusdem festo instituindo” [Da Misericórdia de Deus e da instituição da Sua festa]. Enquanto isso, em junho de 1940 a Lituânia foi novamente ocupada pelo Exército Vermelho e, um mês depois, anexada à União Soviética como sua décima quinta república. O Pe. Sopoćko viu-se forçado a interromper os encontros dos grupos a que prestava assistência. Por ser o divulgador da ideia da Misericórdia Divina e propagador do seu culto, o Pe. Sopoćko era procurado pela Soviética. Avisado por uma funcionária do escritório de registro, conseguiu evitar a prisão. Por questões de segurança teve de sair de Vilnius. Assim que a ameaça passou, voltou à cidade e começou a dar aulas no seminário onde, apesar das difíceis condições materiais e habitacionais, se tinha iniciado o novo ano académico de 1940/41. Novamente fixou residência junto à igreja de S. Miguel onde estava localizada a imagem do Misericordiosíssimo Salvador, envolta de cada vez maior veneração. No dia 22 de junho de 1941 rebentou a guerra russo-alemã. Em breve Vilnius voltou a encontrar-se sob uma nova ocupação. A população judaica foi então submetida a uma especial discriminação. O Pe. Sopoćko prestava também apoio material e espiritual aos judeus. Tal tipo de procedimento podia ter consequências perigosas, até mesmo a perda da vida. A Gestapo descobriu pistas da sua atividade e chegou a mantê-lo preso por alguns dias. No final do ano de 1941, os alemães intensificaram o terror da ocupação. No último domingo do Advento, a pretexto de uma suposta epidemia, fecharam todas as igrejas de Vilnius e em sequência disto, no dia 3 de março de 1942, empreenderam uma larga ação contra o clero. Prenderam professores e estudantes do seminário e quase todos os padres que trabalhavam em Vilnius. Na mesma altura, os agentes da Gestapo prepararam também uma armadilha na residência do Pe. Sopoćko. Disfarçado, deixou Vilnius em direção ao convento das Irmãs religiosas Ursulinas em Czarny Bór, a quatro quilómetros de distância.
O Pe. Sopoćko em Czarny Bór, com as Irmãs Ursulinas,
No outono de 1944, apesar das condições de vida extremamente difíceis, o arcebispo Jalbrzykowski confiou-lhe o reinício das aulas no seminário. Após dois anos de vida escondida, o Pe. Sopoćko regressou a Vilnius e assumiu as tarefas que lhe foram confiadas. Todos os domingos, juntamente com outros professores e alunos, viajava até às paróquias das aldeias com o objetivo de recolher produtos agrícolas para a subsistência do seminário. O Pe. Sopoćko envolveu-se também no trabalho pastoral fora de Vilnius, aproveitando para difundir a ideia da Misericórdia Divina. Apesar da postura anticlerical, as autoridades da República no início toleravam a atividade pastoral dos sacerdotes. No entanto, com o passar do tempo, começaram a restringir o seu trabalho, especialmente a catequese dos jovens e das crianças. Os encontros nas paróquias eram realizados na clandestinidade, mas mesmo assim as autoridades recebiam informações sobre eles. Por esse motivo, o Pe. Sopoćko foi chamado à esquadra da polícia. Surgiu o perigo real de serem adotadas medidas de coação contra ele, incluindo a possibilidade de exílio na Sibéria. Em julho de 1947, o Pe. Sopoćko recebeu do arcebispo R. Jalbrzykowski, que se encontrava em Bialystok, na Polónia, um convite providencial para ir trabalhar na Polónia. Decidiu então abandonar Vilnius o mais depressa possível, tanto mais que estava a chegar ao fim o período definido para a repatriação dos polacos da Lituânia. Visitou a capela de Nossa Senhora da Misericórdia em Porta da Aurora e, no final de agosto de 1947, entrou no último transporte de população polaca que deixava Vilnius em direção à Polónia. Chegado a Bialystok, o Pe. Sopoćko apresentou-se ao arcebispo Jalbrzykowski com o objetivo de receber ordens para assumir novas funções.
O Pe. M. Sopoćko com as suas filhas espirituais de 1970
Pe. Sopoćko confessor dos seminaristas de Bialystok
Tal como em Vilnius, também em Bialystok o Pe. Sopoćko era confessor de Irmãs religiosas. Confessava, por exemplo, as Irmãs da Congregação das Missionárias da Sagrada Família, que tinham então casa na Rua Poleska. Ao prestar ali assistência espiritual, apercebeu-se da possibilidade de estendê-la aos moradores das redondezas. Graças aos seus esforços, no dia 27 de novembro de 1957, na solenidade de Cristo Rei, realizou-se a bênção da capela da Sagrada Família na casa das Irmãs.
Depois de se reformar, o Pe. Sopoćko passou a residir na casa das Irmãs Missionárias da Sagrada Família onde ainda realizou trabalho pastoral. Os fiéis eram atraídos pela sua rica personalidade sacerdotal, espiritualidade e autoridade provenientes de experiências de vida únicas, para além da sua grande modéstia pessoal. No final dos anos 50, o Pe. Sopoćko tomou mais uma iniciativa de construir uma igreja, desta vez em Bialystok. Conseguiu comprar um terreno com uma casa, tendo coberto quase a metade dos custos com as próprias poupanças. À igreja projetada juntou o plano que já tinha em Vilnius de construir um santuário sob a invocação da Misericórdia Divina. Porém, também desta vez teve de conformar-se com o desmoronar das suas intenções. Exercendo o ministério sacerdotal na capela da Rua Poleska, dedicou-se então à conclusão dos trabalhos relacionados com a ideia da Misericórdia Divina que tinha iniciado. Como tinha mais tempo, começou a aprofundar a ideia da Misericórdia Divina. Uma circunstância importante que estimulava o envolvimento do Pe. Sopoćko era o desenvolvimento constante da devoção à Misericórdia Divina, bem como o interesse de outros teólogos por essa ideia. Um outro impulso e estímulo importante para o trabalho missionário em prol da Misericórdia Divina foi o início do processo informativo da Irmã Faustina Kowalska, em 1965, pelo arcebispo de Cracóvia Karol Wojtyla . O Pe. Sopoćko também foi envolvido nesse processo, apresentando-se no papel de testemunha. O Pe. Sopoćko viveu até ao belo jubileu dos 60 anos do seu ministério sacerdotal. Esta solenidade, no parecer e na avaliação de muitos participantes, foi uma recompensa moral muito atrasada para o venerável sacerdote dedicado à causa Divina, especialmente à divulgação da ideia da Misericórdia Divina. O único sinal de reconhecimento pelos diversos méritos do padre aniversariante para a Igreja e a arquidiocese foi a sua nomeação de cónego do Capítulo da Basílica Metropolitana, em 1972, quando já estava no ocaso da vida.
Durante toda a sua vida, o Pe. Sopoćko foi um homem de ação com firme fundamento espiritual. Quando lhe começou a faltar a destreza física e vieram as doenças, a esfera espiritual tornou-se na área do seu envolvimento e serviço às causas Divinas. As citações de leituras deixadas no seu Diário testemunham que era justamente assim que ele entendia o seu último ministério:
Apenas passados precisamente três anos da morte do Pe. Sopoćko, no dia 15 de fevereiro de 1978, foi retirada a Notificação que proibia a proclamação nova forma do culto da Misericórdia Divina. “Esta S. Congregação, tendo em vista os muitos documentos originais, desconhecidos em 1959; considerando que as circunstâncias variaram profundamente e contando com o parecer de muitos Ordinários polacos, declara que as proibições contidas na citada “Notificação” não obrigam doravante.”
A casa onde o Padre Sopoćko passou o último período da sua vida pertence
A sala da memória
Santuário da Misericórdia Divina, Bialystok, Praça Beato Pe. Sopoćko, 1
No dia 28 de setembro de 2008, no Santuário da Misericórdia Divina, em Bialystok, realizou-se a beatificação do Pe. Miguel Sopoćko, confessor e diretor espiritual de Santa Faustina Kowalska e fundador da Congregação das Irmãs de Jesus Misericordioso. A Missa de beatificação foi presidida pelo delegado pontifício, o arcebispo Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. O arcebispo Angelo Amato presidiu ao ato da beatificação, tendo lido um decreto do papa Bento XVI emitido no dia 26 de setembro de 2008, no Vaticano.
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